segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cantiga de Cantar

Plantei meu violão
em seu peito esquerdo
deles nasceram
orquestras de jasmins cantores enamorados

Aflorados pelo fino vento primaveril
elocubrando melodias infindáveis

Em cada polén de cor
nascendo pro novo enrredo

De canção em canção perdi o medo
e estraçalhei os cadeados
encrustrados como ostras
sem delírios

Logo depois de cada trilho
novamente enloquecia
com o som enfebrecido
de seus acordes matinais

Embebido pela ternura
do vento leve de seus beijos
via os quintais onde corriam e brincavam
nossos pequenos eus divididos

Plantei meu violão
em seu peito esquerdo
de canção em canção
perdi o medo.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Imã

Meu colo: calo.
Meu copo: vazio.
Meu corpo: copa.
Meu sangue: árduo.

Meu trono: tirano.
Meu uivo: grave.
Meu pranto: longo.
Meu canto: curto.
Meu santo: forte.
Meu bojo: bajulo.
Meu tiro: insano.

Meu par: soberano.
Meu altar: tacto.
Meu luar: música.
Meu carro: corro.
Meu olho: belo.
Meu toque: tece.


Meu sonho: sempre.
Minha dança: sagrada.
Meu sacro: uno.
Meu sono: puro.
Meu punho: pai.
Meu ninho: vinho.


Meu dia: noite.
Meu trampo: arte.
Minha arte: arde.


Minha escola: ilusão.
Minha mala: descansa.
Minha alma: impávida.
Minha calma: perto.
Minha ama: amo.

Minha cara: mole.
Minha rua: duas.
Minha musa: nula.

Minha hora: só.
Minha camisa: nua.
Minha janela: fechada.
Minha morada: favela.
Minha mãe: tudo.
Minha luz: todo.
Minha escuridão: coragem.
Meu enrredo: escuridão.
Minha sabedoria: capim.
Meu asno: sábio.
Minha estória: música.
Minha vitória: música.
Minha música: filosofia.

Pulso em Sol

Pulso em Sol


Pequena flor distante(...)
Serena em sua forma,
mostrando-me as seis asas
em chamas de fogo.

Seu rosto, Teu semblante
Higia de beleza grega
Herrante em terras pagãs.


Olhos que tudo vêem
além da beleza das formas
Desencanta meus acordes matinais.


Sua música é murmúrio
mostrando a força dos avós.
Recriando das cinzas
as canções de fogo
e trazendo as cores dos Serafins.

Acalentadora dos espíritos longíguos
com sua paixão de abertura.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Mínimas 1

***

A morte vive todo dia.
Ou quase todo dia.

***

O sorriso das crianças ilumina os dias.

***

A vida vive toda noite.

***

A música é a vingança dos traumas joviais.

***

Não sou filho da pólis
nem do logos
nem da psiquê.
Sou filho do inesperado.

***

A verdade é nada mais do que a versão do perdedor.
Então seria o vencedor uma ilusão?

***

O amor é uma neurotoxina:
Pode danificar irremediavelmente o sistema nervoso central
se deixar de ser correspondido.

***

Não quero mais olhar
com seus olhos de gêlo.

***

Eu estive em todos os lugares
e não consegui me encontrar nem em mim mesmo.

***

É hora de celebrar a morte da dor:
devo um galo a Esculápio.

***

Nem sempre é necessário apequenar-se para engrandecer-se.
Mas é necessário engrandecer-se para apequenar-se grandiosamente.

***

Cada dia sendo mais hoje do que ontem.
Mais agora do que amanhã.

***

Amor, beleza, morte e verdade: sinônimos inseparáveis.

***

O do alto busca seu vizinho para perder-se de si.
O do baixo para se encontrar.
O vizinho segue sendo apenas ele:
sem se perder nem se achar.

***
A dureza é irmã da indiferença
e a doença dos espíritos livres.
Briga, briga e luta:
Ò forte vencedor vencido.

Nas vielas

A flor que plantou em meu peito se foi.
Oração do seu jeito.
Sem cor nem perfume perfeito.
Sem dor de cantar em seu leito.


O céu se fechou em meu pranto.

Cantor de desenganos.

Leve, ando num coração,
Cavalgando sendas indomáveis.
Ritmando meu balanço
num descanço inesperado.

Hoje vivo meus botões:
Lhes confesso meu fracasso!
Prefiro cem corações partidos
do que ser um vencedor de desencanto.

O poeta é perdedor.
Quando errar, terá vencido.
Ou cedido pelo cançasso.


O canto do derrotado
cria o sol e a lua,
a lágrima e a rua,
a esfinge do pecado,
o recado veloz,
o atroz panteísta sufocado
pelos sonhos de espinho,
longe da sabedoria de seu mais íntimo oráculo:
A sinfonia dos avós.